segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Não adianta, a gente se fecha.

Compartilhamos anos juntos, nos acostumamos com a mania, o jeitinho, o gesto do outro, com o cheiro - ah, o cheiro -, mas depois que termina a gente se fecha. E depois de tudo isso não queremos repetir. E por não querer repetir, a gente se mete numa redoma, meio infantil, capengando, falando aqui e ali que o amor é uma droga. Aí a gente cai. Chega aquela outra pessoa, intro ou extro, feinha ou bonita, mas que estende a mão, se liberta, se entrega e se diz preparada... mas achamos que é mais difícil "o amor da gente", que nosso romance de antes é mais forte que qualquer outro romance. A gente sempre acha que em nosso naufrágio tem mais vítimas.

Mas não.

Aí a gente quer ser indiferente, aí "tanto faz se ela quer ligar, tanto faz se a carta vem ou não". E aí caímos mais ainda. E não caímos no fundo no poço. Na verdade tropeçamos num labirinto. Não num labirinto de sebes; num labirinto cinza e cheio de edifícios, com o vai e vem da rotina, o cheiro do esgoto e do cigarro, o rosto anônimo - ou uma máscara? - e muitos tropeços. Tropeçamos na queda do próximo e vamos nos guiando, fugazes, respirando a angústia alheia. Aí o labirinto não acaba nunca.

E a gente enxerga que
Com a ignorância
Vem o alívio.